Joaquim
Manuel de Campos Amaral, foi um empresário de sucesso no Rio de Janeiro, tendo
feito fortuna no final do século XIX.
No livro “Impressões do Brazil no Século Vinte” de Reginald Lloyd (Edição de 1913 da Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd.) é um dos vinte e oito comerciantes do Rio de Janeiro com direito a nomeação com fotografia, juntamente com os seus dois sócios, o irmão João António de Campos Amaral e Fernando Pimentel de Mello, o que atesta a importância das duas casas comerciais de que era proprietário, a Amaral Guimarães & Cia e a Amaral Pimentel & Cia.
No livro “Impressões do Brazil no Século Vinte” de Reginald Lloyd (Edição de 1913 da Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd.) é um dos vinte e oito comerciantes do Rio de Janeiro com direito a nomeação com fotografia, juntamente com os seus dois sócios, o irmão João António de Campos Amaral e Fernando Pimentel de Mello, o que atesta a importância das duas casas comerciais de que era proprietário, a Amaral Guimarães & Cia e a Amaral Pimentel & Cia.
Ainda
na mesma publicação, a Amaral, Guimarães & Cia, é referida da seguinte
forma:
“Amaral, Guimarães
& Cia. - Foi esta casa fundada em 1890, pelos sócios Srs. Joaquim Manuel de
Campos Amaral e António José de Mattos Guimarães, como solidários, com o
capital de Rs. 25:000$000 cada um; e Joaquim Fernandes dos Santos Junior, como
comanditário, com o capital de Rs. 50:000$000".
"Durante a vigência
deste contrato, que terminou em 1903, teve a casa dois sócios de indústria que
se retiraram nessa data, pagos e satisfeitos de seus haveres, e na mesma data
foi reformado o contrato social e elevado o capital a Rs. 530:000$000. Foram
então admitidos como interessados os Srs. João António de Campos Amaral e
Fernando Pimentel de Mello".
"Em Setembro de 1905, faleceu o Sr. Antonio José de Mattos Guimarães. Embolsados os seus herdeiros com a quantia de Rs. 400:000$000, continuou a vigorar a firma Amaral Guimarães & Cia., por ter adoptado o sobrenome Guimarães o sócio Sr. Joaquim Manuel de Campos Amaral".
"Em Dezembro de 1905,
retiraram-se da casa os dois interessados acima referidos, pagos e satisfeitos de
seus haveres; reformou-se o contrato para vigorar até Dezembro de 1910; foi
reposto o capital pago aos herdeiros do sócio falecido e passaram a
interessados quatro dos empregados mais antigos da casa, os quais se retiraram
também, pagos e satisfeitos, em 1910".
"Tendo saído da casa,
em 1905, como dissemos acima, os dois interessados Srs. João António de Campos
Amaral e Fernando Pimentel de Mello, estabeleceram estes uma casa do mesmo
artigo à Rua Chile, 35 e 37, sob a razão social de Barbosa, Amaral & Pimentel,
em Janeiro de 1906. Essa sociedade existiu até 1910, quando o sócio sr. Barbosa
se retirou da firma, embolsado com Rs. 200:000$000".
"Nesse ano, foi
resolvida a fusão das duas casas, ficando a girar sob duas firmas inteiramente
distintas, a saber:
1. Amaral Guimarães
& Cia., composta dos sócios
solidários Srs. Joaquim Manuel de Campos Amaral Guimarães, João António de
Campos Amaral, Fernando Pimentel de Mello e do comanditário Sr. Joaquim
Fernandes dos Santos Junior, sendo o capital social de Rs. 600:000$000;
2. Amarais, Pimentel
& Cia., composta dos sócios
solidários Srs. Joaquim Manuel de Campos Amaral Guimarães, João António de
Campos Amaral, Fernando Pimentel de Mello e do comanditário Sr. Joaquim
Fernandes dos Santos Junior, sendo o capital social de Rs. 400:000$000".
"No período decorrido
desde a fundação da casa até 1910, retirou o sócio Joaquim Manuel de Campos
Amaral Guimarães, da sociedade, por conta dos seus lucros, o suficiente para
adquirir alguns prédios no valor de Rs. 800:000$000, o que também se deu com o
comanditário".
"Na vigência da nova
sociedade sob a gerência dos sócios Srs. João Antonio de Campos Amaral e
Fernando Pimentel de Mello, adquiriram estes para a sociedade o grande terreno
e prédio em que funciona a fábrica, ficando o depósito geral e o material de
transportes pela quantia de Rs. 150:000$000".
"A sede social
compõe-se dos seguintes imóveis:
- Rua de S. José 77 e 79, escritório e exposição de ladrilhos, azulejos, metais e louças de barro refractário.
- Rua de S. José 72, secção de encaixotamento e exposição de banheiras e mais artigos de ferro esmaltado.
- Rua de S. José 74, exposição e depósito de louças sanitárias e azulejos.
- Rua de S. José 78, oficina e exposição de mármores, em grande escala.
- Rua do Riachuelo, 130, 132 e 134 depósito geral e fábrica, de propriedade da firma
- Rua do Chile 35 e 37, na Casa Amaraes, Pimentel & Cia. há uma grande exposição de todos os artigos acima mencionados".
Área de exposição da Amaral, Guimarães & Cia na Rua de S. José |
Área de exposição da Amaral, Guimarães & Cia na Rua de S. José |
Rua do Riachuelo, 130, 132 e 134 depósito geral e fábrica - foto de 2013; cem anos depois ainda subsiste o prédio que albergou a fábrica e o depósito geral da firma "Amaral, Guimarães & Cia" |
Detalhe da fachada - Rua do Riachuelo 130, 132 e 134, Rio de Janeiro (foto de 2013) |
José Paulo Amaral Rocha de Oliveira, bisneto de Joaquim Manuel de Campos Amaral, à porta do nº 130 da Rua do Riachuelo, no Rio de Janeiro em 2013 |
Em 2013 havia um projecto de preservação do imóvel onde funcionou a fábrica e o depósito geral da Amaral, Guimarães & Cia |
"A produção anual da
fábrica pode ser avaliada entre Rs. 200:000$000 e Rs. 250:000$000. Tanto a
produção como o valor, variam de conformidade com os desenhos fabricados e que
mais extração tenham tido durante o ano, visto haver destes uns mais fáceis que
outros na fabricação e portanto mais caros ou mais baratos".
"As especialidades do
comércio da empresa são: ladrilhos, azulejos, louça sanitária, banheiras de
ferro esmaltado e mais artigos sanitários deste gênero, mármores de todas as
cores e dimensões, em grosso e em obra, metais para empregos sanitários,
aquecedores de água a gás e a álcool, gesso para estuque, cimento branco, preto,
comum, amarelo presa rápida, cal hidráulica e do Reino (virgem em pedra),
tijolos refratários e mais materiais de construção.”
“Impressões do Brazil no Século Vinte” (página 613) de
Reginald Lloyd
Edição de 1913 da
Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd
Encontrámos
diversas referências á Amaral, Guimarães & Cia, nomeadamente no
fornecimento de louças sanitárias para a casa de Rui Barbosa no Rio de Janeiro.
Louças sanitárias da Amaral, Guimarães & Cia, na Casa Rui Barbosa no Rio de janeiro |
Os ladrilhos para o Palácio Amarelo em Petrópolis, construído entre 1894 e 1897, também foram fornecidos pela "Amaral, Guimarães & Cia", como consta em notícia da época
“...os
belos ladrilhos que ornamentam o adro, o hall, o patamar da escada e os
terraços são da firma Amaral Guimarães e Cia., do Rio de Janeiro, que propôs o
preço de 7:250$000 para fornecimento e assentamento do material, inclusive
maçame, rodapé, etc., com o qual concordou a Câmara em sessão de 12 de Março de
1896…”
Os mármores e azulejos para as obras de embelezamento levadas a cabo na Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, no Rio de Janeiro entre 1900 e 1902, foram fornecidas pela "Amaral, Guimarães & Cia".
Os mármores e azulejos para as obras de embelezamento levadas a cabo na Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, no Rio de Janeiro entre 1900 e 1902, foram fornecidas pela "Amaral, Guimarães & Cia".
Estas referências que encontramos refletem bem a importância da firma do avô Joaquim no início do século XX no Rio de Janeiro.
Joaquim
Manuel de Campos Amaral, negociava ainda na exportação de madeiras exóticas do
Brasil para a Europa.
Segundo
contava a avó Nanda, as madeiras brasileiras utilizadas na construção do
palácio Sotto-Mayor em Lisboa e do palácio da Regaleira em Sintra, foram
importadas pela firma do avô Joaquim.
Cândido
Sotto Mayor (o “primo Candoca” como era conhecido pela família) assim como
António Augusto Carvalho Monteiro (o “Monteiro dos milhões”) eram amigos
pessoais de Joaquim Manuel. Todos eles tinham feito fortuna com os negócios no
Brasil.
Cândido
Sotto Mayor regressou a Portugal na primeira década do século XX, tendo ficado
a residir em Lisboa, onde adquiriu, nas avenidas novas o solar oitocentista da
família Mayer, que depois mandou demolir, para em sua substituição construir
uma moradia com todas as comodidades do “mundo moderno”, e de inspiração
francesa, o palácio Sotto Mayor. As obras foram iniciadas em 1902, segundo projecto
do Capitão de Engenharia do Exército, António Rodrigues Nogueira a partir de um
esboço dos arquitectos Ezequiel Bandeira e Carlos Alberto Correia Monção. A
construção foi concluída em 1906, tal como relata a Revista “ilustração
Portugueza” da época.
O Palácio Sotto Mayor - "ILLUSTRAÇÃO PORTUGUEZA" - 1906 |
Segundo a descrição da avó Nanda, a casa da Quinta das Palmeiras em Benfica, adquirida pelo avô Joaquim por volta de 1910, embora menor, tinha muitas parecenças com o Palácio Sotto Mayor.
António
Augusto Carvalho Monteiro, adquiriu em 1892, aos Barões da Regaleira uma quinta
em Sintra, por 25 contos de réis. A construção do palácio teve início em 1904 e
estava concluída em 1910.
António Augusto Carvalho Monteiro |
O
palácio segundo projecto do arquitecto italiano Luigi Manini, evoca a
arquitectura românica , gótica, renascentista e Manuelina. Está inserido num parque de 4 hectares com jardins magníficos com múltiplas espécies exóticas. lagos e diversas construções
enigmáticas, as quais contribuem para o misticismo atribuído à quinta da Regaleira.
“A quinta integra um
magnífico jardim, constituído por árvores exóticas e vegetação abundante, que
compõe um curioso percurso de características marcadamente cenográficas. Para
este percurso, bem como para o imenso acervo iconográfico que compõe a profusa
decoração de todo o palacete, anexos e jardins, pode apontar-se uma linha
orientativa de cariz esotérico, conjugada com a simbólica nacionalista dos
estilos arquitectónicos neo aqui utilizados. Assim se poderia entender o
percurso dos jardins como viagem de teor iniciático, incluindo uma alameda
ornada com estátuas de deuses clássicos, uma misteriosa gruta artificial
abrigando um lago onde deveriam nadar brancos cisnes sob o olhar de uma mítica
Leda, um terraço chamado das Quimeras, e ainda um bosque sombrio, cuja
travessia apela a um silêncio introspectivo, proporcionando finalmente a visão
da torre do palácio, com larga vista da serra. Particularmente impressionante,
neste contexto, é o grande poço, conduzindo progressivamente o visitante até ao
fundo, decorado com uma cruz templária e uma rosa-dos-ventos, através de uma
descida espiralada; e ainda um túnel estreito, longo e escuro, que liga as
profundezas da terra à visão de um terraço alteado e luminoso. A simbólica
templária repete-se um pouco por toda a parte, na capela neo-manuelina e nas
salas palacianas, que abrigam mobiliário feito por encomenda, tal como um
imponente trono entalhado, sempre exibindo simbólica heráldica ou mitológica. A
evocação da História de Portugal repete-se nos frisos com os reis portugueses,
enquanto uma menção directa ao imaginário maçónico se poderá deduzir do tecto
pintado da Sala das Virtudes, onde se encontram as personificações da Força, da
Beleza e da Sabedoria. De facto, tem sido aventada a possibilidade de uma
eventual filiação maçónica por parte de Carvalho Monteiro, de acordo com o
espírito da época e com a inclinação intelectual de uma certa elite nacional.
Aqui encontra localização privilegiada o espólio da colecção de artefactos
maçónicos de Pisani Burnay, presentemente exposto no palácio da Regaleira.”
Se a Quinta da Regaleira despertou a sua curiosidade, aconselho a leitura de:
- "O espaço sagrado e os Jardins iniciáticos da Quinta da Regaleira", artigo da autroria de José Manuel Anes, publicado em 2010 na revista de "Arquitectura e Educação", nº 3.
- "De Lagos da Beira à Regaleira" - texto de Paulo Andrade