sábado, 18 de janeiro de 2014

A AVÓ LUCIANA (a 6ª geração de avós cariocas)

1867, D. Pedro II era o imperador do Brasil e a sua Capital, o Rio de Janeiro, era uma cidade que prosperava e crescia avassaladoramente, contando já mais de 200.000 habitantes e acolhendo todos os dias novas vagas de imigrantes.


Panorâmica do Rio de Janeiro na década de 60 do século XIX, tomada da Ilha das Cobras; A Igreja da Candelária ainda não tinha a cúpula, a qual só viria a estar concluída em 1877

Foi nesse ano que nasceu, a 27 de Dezembro, Luciana Leal Souto, filha de José da Costa Ferreira Souto e de sua mulher, Maria da Encarnação de Castro Vilaça dos Santos Leal. Luciana  foi baptizada na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária do Rio de Janeiro a 27 de Junho de 1868, tendo como padrinhos Eugénio de Saint Denis e D. Luciana de Santos Sousa.




Registos paroquiais da Freguesia de Nossa Senhora da Candelária, Rio de Janeiro; Lv bp 27.06.1868/f153v
"Aos vinte e sete dias do mês de Junho de 1868 nesta Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária baptizei solenementa a inocente Luciana nascida a vinte e sete de Dezembro do ano próximo passado (1867), filha legítima de José da Costa Ferreira Souto, natural de Portugal e de Dona Maria da Encarnação Leal, natural desta cidade, neta paterna de António Ferreira Souto e de Dona Quitéria da Costa Souto, naturais de Portugal e materna de Francisco dos Santos Leal; foram padrinhos Eugénio de Saint Denis e Dona Luciana de Santos Sousa; de que fiz este assento que assinei." 
O coadjutor Januário G. de Oliveira Rosa

Igreja de Nossa Senhora da Candelária do Rio de Janeiro


Segundo conta a lenda, nos princípios do século XVII uma tempestade quase fez naufragar o navio “Candelária”, no qual viajavam os espanhóis António Martins Palma e Leonor Gonçalves. O casal fez a promessa de edificar uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Candelária se escapassem com vida. A nau finalmente aportou no Rio de Janeiro, e o casal fez construir uma pequena ermida no local da actual Igreja da Candelária em 1609. A primeira renovação ocorreu em 1710 e na segunda metade do século XVIII, o sargento-mor Francisco João Roscio, engenheiro militar português, desenhou os planos para uma nova igreja. As obras começaram em 1775 e a inauguração, com a igreja ainda inacabada, ocorreu em 1811 na presença do Príncipe-Regente, e futuro Rei de Portugal, D. João VI. A igreja tinha nesse momento uma só nave, e os altares do interior da igreja tinham sido esculpidos por Mestre Valentim, o grande artista do estilo rococó do Rio, (foram substituídos nas reformas posteriores).A fachada e o projecto geral de planta em cruz latina com cúpula  sobre o transepto   lembram  muito certas obras do barroco português, como por exemplo a igreja do Convento de Mafra (1717-1730), e a Basílica da Estrela (1779-1790).
Como ocorre também com a maioria das igrejas coloniais do Rio, a fachada da Igreja da Candelária está voltada para a Baía de Guanabara, uma vez que essa era a via principal de entrada na cidade.

Posteriormente o projecto foi ampliado para três naves, sendo mantida a fachada original do projecto de Roscio. Por volta de 1856 terminou o abobadamento das naves e capelas. A cúpula foi finalmente concluída em 1877. As diversas partes da cúpula, em pedra de lioz portuguesa, foram feitas em Lisboa, assim como as oito estátuas que a enfeitam, esculpidas pelo português José Cesário de Salles. Quando foi terminada, a cúpula da Candelária era a mais alta construção da cidade


O pai de Luciana, José da Costa Ferreira Souto era um comerciante bem sucedido, que, infelizmente, veio a falecer precocemente, em 1869, com apenas 37 anos. Luciana ainda não tinha completado dois anos.
De acordo com a tradição familiar, José da Costa Ferreira Souto faleceu, deixando a viúva com uma boa situação financeira, em virtude dos negócios em que tinha sido bem sucedido.


Foto de Luciana
c.1869 (provavelmente pouco tempo antes de seu pai falecer)
EstúdioCypriano & Silveira, na Rua dos Ourives nº 34, Rio de Janeiro


Foto de Luciana
c. 1874
Estúdio de Carneiro Silva & Tavares
Na Rua Gonçalves Dias nº  54, Rio de Janeiro

Luciana e as suas irmãs puderam assim ser criadas e educadas confortavelmente, na Rua de S. José nº 77, no Rio de Janeiro, (próximo do local onde seu pai tinha o estabelecimento comercial, na Rua da Quitanda).



Foto de Marc Ferrez - Rua no Centro do Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX;
(A Rua de S. José na década de 70 do séc. XIX, não teria um aspecto muito diferente)



A avó Luciana cresceu numa cidade e numa sociedade que se modificava rapidamente. A cidade foi palco de alguns dos mais importantes acontecimentos da história do Brasil.
Antes de completar os 10 anos, assistirá ao fim da escravatura, aos últimos dias do Império, à proclamação da República do Brasil e a todas as convulsões políticas e sociais que se seguiram.
Assistirá também ás modificações resultantes do crescimento da sua cidade e do advento  das novas tecnologias que revolucionarão hábitos e costumes nesse final do século XIX como sejam a luz eléctrica, o telefone, os “bondes” eléctricos, o cinema…





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