domingo, 19 de janeiro de 2014

A QUINTA DAS PALMEIRAS EM BENFICA

LISBOA, no virar da primeira década do século vinte recebia a família Campos Amaral que se mudava para a Europa para tratamento médico da avó Luciana. Embora o destino final fosse a Suiça, o avô Joaquim acabou por ceder aos argumentos que o pressionavam a permanecer em Portugal. Era o seu país, os cuidados médicos que tinha assegurado para a avó Luciana em Lisboa,  tinham-se revelado promissores e ao fim de alguns meses tinha encontrado uma propriedade em Lisboa com as condições adequadas para instalar toda a sua família, a Quinta das Palmeiras.


Tratava-se de uma grande quinta, limitada a nascente pela estrada do poço do chão, (que ligava o callhariz de Benfica a Carnide), a norte pela estrada dos Arneiros (Caminho da correia), a poente pela Rua dos Arneiros e a Sul confrontava com outras quintas. A escolha desta propriedade, prendia-se com os bons ares da região, numa zona de quintas, mas ao mesmo tempo, suficientemente próxima de Lisboa, para o avô Joaquim manter os seus negócios.

Não sabemos se era essa a designação original da quinta, ou se foi assim baptizada depois do avô Joaquim terá mandado plantar as inúmeras alamedas de palmeiras que constituíam a principal característica da propriedade. No centro da mesma existia uma grande casa, de planta quadrangular, com enormes vidraças em cada uma das fachadas.


Foto de uma das alamedas de palmeiras “canarensis” da quinta (c.1912)


Pormenor da região de Benfica no levantamento topográfico de 1911, onde é possível identificar a Quinta das Palmeiras, limitada a norte pelo Cemitério de Benfica (à data, também conhecido por cemitério dos Arneiros) e caminho da Correia (ou estrada dos Arneiros) e a nascente pela estrada do Poço do Chão (do outro lado dessa estrada ficava a quinta da Granja, que ainda hoje existe).


Foto aérea 100 anos depois (2010). É notória a transformação urbana da extensa área de quintas a norte da estrada de Benfica. Sobreviveu apenas a Quinta da Granja. Da Quinta das Palmeiras resta apenas uma pequena parte do eucaliptal, que hoje está transformado em parque público e é conhecido por “Eucaliptal de Benfica”. O local assinalado a amarelo, no cruzamento da R. João de Barros com a Rua Coronel Santos Pedroso, corresponde à localização aproximada da casa grande da “Quinta das Palmeiras”.


Foto tirada da casa, em direcção a nascente (c. 1912); as casas que se vêm por detrás da alameda de palmeiras, tinham frente para a Estrada do Poço do Chão. Ao fundo, à esquerda, na colina, identifica-se a Quinta da Granja, a última Quinta de Benfica que em 2011 ainda resiste à voragem do betão.


Vista aérea de Benfica, na década de 40 do século XX, com a estrada de Benfica e a Igreja, em primeiro plano; em cima à esquerda a entrada principal do cemitério de Benfica e à direita a Quinta das Palmeiras, com o extenso eucaliptal plantado pelo avô Joaquim e que ainda hoje existe, em parte, e a casa grande da quinta, já desaparecida. Em baixo, Ampliação a partir da foto anterior, sendo possível identificar a casa grande, o eucaliptal e uma das múltiplas alamedas de palmeiras, também plantadas pelo avô Joaquim, que existiam na quinta e que lhe deram o nome.



Nesta foto que data de 1954, ano da inauguração do estádio da Luz, ainda é possível identificar ao fundo a extensa área do eucaliptal e a casa grande, da Quinta das Palmeiras.


Uma vez instalados na Quinta de Benfica, houve que adaptar a vida da família Campos Amaral a um novo pais e uma diferente realidade. Um aspecto importante dizia respeito aos meios necessários para deslocar em Lisboa a numerosa família.  A avó Nanda frequentemente referia, com orgulho e nostalgia, as “duas” Renault em que a família se fazia transportar nas suas deslocações em Lisboa, sempre conduzidas por motorista. Eram de cor verde escura.
Muito provavelmente o avô Joaquim terá adquirido, para as deslocações da família, dois automóveis do mais recente modelo da Renault, o Coupé de Ville – type CB, lançado em 1912.




Foto da família Campos Amaral, pouco tempo após a mudança para a casa da Quinta das Palmeiras em Benfica (cerca de 1912) – à frente sentados nos degraus, da esquerda para a direita, José Luso, Susana, Amélia, Manuel e a avó Nanda; atrás, da esquerda para a direita, Maria, a avó Luciana e o avô Joaquim.
A Tia Maria Antónia, herdou a Quinta das Palmeiras. Em 1921, numa entrevista ao seu marido, o Dr. Alberto da Veiga Simões, a propósito da sua nomeação para o cargo de Ministro dos Estrangeiros, um jornalista do jornal “O século”,  faz a seguinte descrição da propriedade:
“... caminho largo, carregado a verde e ao fundo uma habitação admirável de proporções e bom gosto (...) Corrida a porta envidraçada, a disfarçar um lar de hospitabilidade e beleza, à esquerda um gabinete de trabalho arejado, ideias novas, novos processos, um ambiente de invulgaridade, de mistura com os “mapples” inevitáveis e umas quantas preciosidades, cuja enumeração deve ficar escondida à ávida curiosidade...”
“Ouvindo o novo ministro dos Estrangeiros”, “O Século”, 21.10.1921, pág.2
“...a porta envidraçada...” referida neste texto é a que se pode observar nesta foto


Foto de almoço em família na quinta de Benfica (c.1913); da esquerda para a direita, Manuel, ...(?)..., avô Joaquim, .(?)..., avó Nanda, ...(?)., Amélia, empregada da casa, avó Luciana, ....(?).., Maria e Susana.



O tio Manuel, as tias Susana e Amélia, a avó Nanda e o tio José Luso


A avó Nanda, a tia Maria, uma amiga, a tia Susana e a tia Amélia na escadaria da casa de Benfica

Luciana Leal Ferreira Souto, faleceu em Lisboa, na Quinta das Palmeiras em Benfica em 1916, estando sepultada no Cemitério dos Prazeres, no Jazigo dos Mântuas.

Após a sua morte, Joaquim Manuel de Campos Amaral regressou de novo ao Rio de Janeiro, com seus filhos, assumindo novamente a rédea dos seus negócios e voltando a ter um papel importante na Associação dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro, até á sua morte em 1918.

Em 1916, mais precisamente a 10 de Fevereiro, foi celebrado na Quinta das Palmeiras, o casamento entre Maria Antónia Leal Souto de Campos Amaral e o Diplomata Alberto da Veiga Simões, mas isso é uma outra história...

5 comentários:

  1. Boa tarde.
    Na verdade penso saber algo sobre esta quinta.
    Pertenceu a João Batista Dotti e já então se chamava Quinta das Palmeiras.
    Penso que a sua família terá comprado a quinta à família Dotti no início do séc. XX
    A madrinha de minha mãe foi casada muitos anos mais tarde com o referido Dotti e sempre se falou muito acerca desta quinta onde viria a ser criado o Colégio Infante Sagres algum tempo depois.
    Meira

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    1. Boa tarde, a Quinta das Palmeiras da família Dotti estava localizada na zona das Laranjeiras, próxima da actual universidade católica.
      A Quinta das Palmeiras adquirida pelo meu bisavô cerca de 1910 localizava-se em Benfica.
      De qualquer forma obrigado pelo seu comentário

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  2. Boa tarde.
    Passou muito tempo sem que eu visse a sua resposta ao meu comentário. Na verdade, não sabia que existiram duas quintas com o mesmo nome. Sabia que a Quinta das Palmeiras da família Dotti era na zona de Benfica e que ficaria muito próxima ou estaria mesmo pegada à Quinta das Laranjeiras do Conde de Farrobo.
    A casa era um vasto edifício de planta quadrangular ao gosto pombalino que mais tarde viria a ser convertida no Colégio Infante de Sagres.
    Meira

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