LISBOA, no virar da primeira década do século vinte recebia a família Campos Amaral que se mudava para a Europa para tratamento médico da avó Luciana. Embora o destino final fosse a Suiça, o avô Joaquim acabou por ceder aos argumentos que o pressionavam a permanecer em Portugal. Era o seu país, os cuidados médicos que tinha assegurado para a avó Luciana em Lisboa, tinham-se revelado promissores e ao fim de alguns meses tinha encontrado uma propriedade em Lisboa com as condições adequadas para instalar toda a sua família, a Quinta das Palmeiras.
Tratava-se de uma grande quinta, limitada
a nascente pela estrada do poço do chão, (que ligava o callhariz de Benfica a
Carnide), a norte pela estrada dos Arneiros (Caminho da correia), a poente pela
Rua dos Arneiros e a Sul confrontava com outras quintas. A escolha desta
propriedade, prendia-se com os bons ares da região, numa zona de quintas, mas
ao mesmo tempo, suficientemente próxima de Lisboa, para o avô Joaquim manter os
seus negócios.
Não sabemos se era essa a designação
original da quinta, ou se foi assim baptizada depois do avô Joaquim terá
mandado plantar as inúmeras alamedas de palmeiras que constituíam a principal característica
da propriedade. No centro da mesma existia uma grande casa, de planta
quadrangular, com enormes vidraças em cada uma das fachadas.
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Foto de uma das
alamedas de palmeiras “canarensis” da quinta (c.1912)
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Pormenor da região de Benfica no levantamento
topográfico de 1911, onde é possível identificar a Quinta das Palmeiras,
limitada a norte pelo Cemitério de Benfica (à data, também conhecido por
cemitério dos Arneiros) e caminho da Correia (ou estrada dos Arneiros) e a
nascente pela estrada do Poço do Chão (do outro lado dessa estrada ficava a quinta
da Granja, que ainda hoje existe).
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Foto aérea 100 anos depois (2010). É notória a transformação urbana da
extensa área de quintas a norte da estrada de Benfica. Sobreviveu apenas a Quinta
da Granja. Da Quinta das Palmeiras resta apenas uma pequena parte do
eucaliptal, que hoje está transformado em parque público e é conhecido por
“Eucaliptal de Benfica”. O local assinalado a amarelo, no cruzamento da R. João
de Barros com a Rua Coronel Santos Pedroso, corresponde à localização
aproximada da casa grande da “Quinta das Palmeiras”.
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Foto tirada da casa, em direcção a nascente (c. 1912); as casas que se
vêm por detrás da alameda de palmeiras, tinham frente para a Estrada do Poço do
Chão. Ao fundo, à esquerda, na colina, identifica-se a Quinta da Granja, a
última Quinta de Benfica que em 2011 ainda resiste à voragem do betão.
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Vista aérea de
Benfica, na década de 40 do século XX, com a estrada de Benfica e a Igreja, em
primeiro plano; em cima à esquerda a entrada principal do cemitério de Benfica
e à direita a Quinta das Palmeiras, com o extenso eucaliptal plantado pelo avô
Joaquim e que ainda hoje existe, em parte, e a casa grande da quinta, já
desaparecida. Em baixo, Ampliação a partir da foto anterior, sendo possível
identificar a casa grande, o eucaliptal e uma das múltiplas alamedas de
palmeiras, também plantadas pelo avô Joaquim, que existiam na quinta e que lhe
deram o nome.
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Nesta foto que data de 1954, ano da inauguração do estádio da Luz,
ainda é possível identificar ao fundo a extensa área do eucaliptal e a casa
grande, da Quinta das Palmeiras.
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Uma vez instalados na Quinta de Benfica,
houve que adaptar a vida da família Campos Amaral a um novo pais e uma
diferente realidade. Um aspecto importante dizia respeito aos meios necessários
para deslocar em Lisboa a numerosa família. A avó Nanda frequentemente referia, com orgulho e nostalgia,
as “duas” Renault em que a família se fazia transportar nas suas deslocações em
Lisboa, sempre conduzidas por motorista. Eram de cor verde escura.
Muito provavelmente o avô Joaquim terá adquirido, para as deslocações da
família, dois automóveis do mais recente modelo da Renault, o Coupé de Ville –
type CB, lançado em 1912.
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Foto da família Campos Amaral, pouco tempo após a mudança para a casa
da Quinta das Palmeiras em Benfica (cerca de 1912) – à frente sentados nos
degraus, da esquerda para a direita, José Luso, Susana, Amélia, Manuel e a avó
Nanda; atrás, da esquerda para a direita, Maria, a avó Luciana e o avô Joaquim.
A Tia Maria
Antónia, herdou a Quinta das Palmeiras. Em 1921, numa entrevista ao seu marido,
o Dr. Alberto da Veiga Simões, a propósito da sua nomeação para o cargo de
Ministro dos Estrangeiros, um jornalista do jornal “O século”, faz a seguinte descrição da
propriedade:
“... caminho largo, carregado a verde e ao fundo uma habitação
admirável de proporções e bom gosto (...) Corrida a porta envidraçada, a
disfarçar um lar de hospitabilidade e beleza, à esquerda um gabinete de
trabalho arejado, ideias novas, novos processos, um ambiente de invulgaridade,
de mistura com os “mapples” inevitáveis e umas quantas preciosidades, cuja
enumeração deve ficar escondida à ávida curiosidade...”
“Ouvindo o novo ministro dos Estrangeiros”, “O Século”, 21.10.1921,
pág.2
“...a porta envidraçada...” referida neste texto é a que se pode
observar nesta foto
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Foto de almoço em família na quinta de Benfica (c.1913); da esquerda
para a direita, Manuel, ...(?)..., avô Joaquim, .(?)..., avó Nanda, ...(?).,
Amélia, empregada da casa, avó Luciana, ....(?).., Maria e Susana.
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O tio Manuel, as tias Susana e Amélia, a avó Nanda e o tio José Luso |
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A avó Nanda, a tia Maria, uma amiga, a tia Susana e a tia Amélia na escadaria
da casa de Benfica
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Luciana Leal Ferreira Souto,
faleceu em Lisboa, na Quinta das Palmeiras em Benfica em 1916, estando
sepultada no Cemitério dos Prazeres, no Jazigo dos Mântuas.
Após a sua morte, Joaquim Manuel
de Campos Amaral regressou de novo ao Rio de Janeiro, com seus filhos,
assumindo novamente a rédea dos seus negócios e voltando a ter um papel
importante na Associação dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro, até á
sua morte em 1918.
Em 1916, mais precisamente a 10
de Fevereiro, foi celebrado na Quinta das Palmeiras, o casamento entre Maria
Antónia Leal Souto de Campos Amaral e o Diplomata Alberto da Veiga Simões, mas
isso é uma outra história...
Muito interessante! Parabéns!
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário
EliminarBoa tarde.
ResponderEliminarNa verdade penso saber algo sobre esta quinta.
Pertenceu a João Batista Dotti e já então se chamava Quinta das Palmeiras.
Penso que a sua família terá comprado a quinta à família Dotti no início do séc. XX
A madrinha de minha mãe foi casada muitos anos mais tarde com o referido Dotti e sempre se falou muito acerca desta quinta onde viria a ser criado o Colégio Infante Sagres algum tempo depois.
Meira
Boa tarde, a Quinta das Palmeiras da família Dotti estava localizada na zona das Laranjeiras, próxima da actual universidade católica.
EliminarA Quinta das Palmeiras adquirida pelo meu bisavô cerca de 1910 localizava-se em Benfica.
De qualquer forma obrigado pelo seu comentário
Boa tarde.
ResponderEliminarPassou muito tempo sem que eu visse a sua resposta ao meu comentário. Na verdade, não sabia que existiram duas quintas com o mesmo nome. Sabia que a Quinta das Palmeiras da família Dotti era na zona de Benfica e que ficaria muito próxima ou estaria mesmo pegada à Quinta das Laranjeiras do Conde de Farrobo.
A casa era um vasto edifício de planta quadrangular ao gosto pombalino que mais tarde viria a ser convertida no Colégio Infante de Sagres.
Meira